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O QUE É TRABALHO INTELECTUAL?

Trabalho intelectual é aquele realizado com a atenção totalmente voltada para a produção de um produto cultural.



Escritor William Faulkner na Califórnia, numa das ocasiões em que escreveu para estúdios de Hollywood. Foto de Alfred Eriss. Fonte.


O QUE É TRABALHO INTELECTUAL?

Trabalho intelectual é aquele realizado com a atenção totalmente voltada para a produção de um produto cultural.


Aqui é preciso fazer uma distinção importante: uma ocupação ou profissão não é necessariamente um trabalho intelectual.


Uma ocupação, como a de médico, professor ou engenheiro, consiste numa atividade na qual não é preciso aplicar toda a atenção do espírito. É algo que se pode fazer de maneira mais ou menos automática de acordo com a experiência.


Um trabalho intelectual, por outro lado, exige uma atenção total do espírito, uma mobilização completa do  ser. Só assim pode-se produzir um material de qualidade, seja poema, conto, romance, ensaio, dissertação ou tese.


Não se deve confundir, então, profissão ou ocupação com trabalho intelectual. Professores, por exemplo, dedicam-se às aulas, à preparação e correção de materiais, mas são raros os que cultivam um trabalho intelectual. Isso ocorre também com médicos, advogados e jornalistas.


Apesar disso, essas profissões são mais propícias à vida e ao trabalho intelectual. No entanto, há empresários, burocratas e engenheiros, entre outros profissionais, que também desenvolvem um trabalho intelectual.


Alguém que vive de trabalho braçal também pode ter uma vida intelectual. Saramago, por exemplo, foi mecânico em sua juventude. Esse foi um período de dedicação às leituras e primeiras criações, que viria a cimentar seu desenvolvimento posterior.


Então, qualquer profissional pode desenvolver uma vida e um trabalho intelectual para além de sua ocupação profissional.

 

QUANDO E ONDE SE DESENVOLVE O TRABALHO INTELECTUAL?

O trabalho intelectual ocorre nas horas propícias. Há quem acorde bem cedo para aproveitar aquele momento antes de ir ao trabalho, outros preferem a noite. Cabe ao interessado descobrir seu melhor horário de concentração e dedicação plena.


Da mesma forma, é bom ter um local para esse trabalho. Isso também pode variar, há quem prefira o quarto, outros um escritório silencioso. J. K. Rowling, por exemplo, escrevia em cafés, em meio a movimento de gente.


Muitos reclamam que não encontram tempo nem ambiente favorável ou que têm uma formação deficitária; tudo isso são desculpas, as biografias dos grandes mestres estão recheadas das dificuldades que enfrentaram. Na verdade é o eu que substitui essas coisas do mundo.


O trabalho intelectual exige poucos recursos. Um intelectual pode trabalhar mesmo enfermo, enclausurado, em meio a condições mínimas. Basta lápis ou caneta e papel que o trabalho sai.

 

ESTRATÉGIA

Se são necessário poucos recursos, esse pouco, porém, deve ser aplicado de maneira correta. Assim, o pouco tempo, as poucas fontes, os raros colegas com quem dialogar podem ser devidamente aplicados, de modo a gerar algum produto.


Como temos pouco tempo em nossas vidas para desenvolver o muito trabalho intelectual que nos é demandado, é preciso usar de estratégia. De acordo com Jean Guiton, em seu O trabalho intelectual, três pontos devem ser levados em conta:


1) Saber selecionar.

2) Não tentar entender tudo.

3) Agarrar-se a um único ponto e investigá-lo em profundidade.


É uma tentação muito grande querer saber tudo ou então ler tudo sobre um assunto antes de começar a trabalhar, mas isso é impossível de ser realizado. Afinal, descobrimos as coisas enquanto estamos fazendo a investigação.

 

EVITAR A PROCRASTINAÇÃO

Da mesma forma, é melhor dar continuidade a um trabalho do que iniciar algo novo.


“Nada é mais difícil que começar. [...] Em todas as coisas, a ideia de começar promove uma certa angústia, depois uma certa preguiça e enfim o orgulho e desespero. É preciso evitar, a todo custo, a ideia de que vai começar. É preferível continuar ou recomeçar.” (GUITON, p. 130)


O melhor, para manter a produtividade, é fazer um pouquinho por dia, todo dia. Nunca parar para não ter de começar. Assim, o melhor seria engatar um projeto no outro, envolver tudo para não ter de começar algo, simplesmente continuar.


Claro que às vezes problemas acontecem. Mas num momento ruim, de secura e desilusão, é possível copiar. A simples cópia mantém a mente ocupada, evitando a sensação de que as coisas pararam e o sentimento de ter de começar de novo.


O principal é nunca parar. Todos os dias, naquele horário reservado para a atividade intelectual é preciso sentar e, no mínimo, reler o que já se fez. Uma palavra que se altere, a correção de uma única vírgula já é algo que pode ser considerado um passo a mais no trabalho.


Tampouco é produtivo criar a espectativa de um trabalho perfeito. É preciso sim ter um padrão de exigência, mas ele não pode ser tão elevado que acabe por gerar uma paralisia.


Como diz Guiton: “Aceita todos os teus limites. O limite dá forma, que é uma condição da plenitude.” (p. 154)


Importante lição aqui! Fazer a cada dia um pouquinho, o que der para fazer hoje, fazer bem feito, cada coisinha merece o nosso melhor.


RECOMPENSA

A maior recompensa que o trabalho intelectual nos dá não está relacionada a dinheiro, fama ou poder. O trabalho intelectual nos dá a felicidade de realizar algo só nosso para o mundo.


Ao desenvolver seu romance, conto, tese ou ensaio você se torna plenamente responsável pelo que produz. Você define os limites, você tem controle de tudo. Mas ao mesmo tempo, você precisa se dobrar à tradição retórica, à ciência, ao conhecimento de mundo.


Essas limitações são pontos produtivos, pois aguçam a criatividade e o conhecimento. Cada obstáculo vencido é uma vitória extraordinária.


Com o tempo, o momento do trabalho intelectual começa a ser esperado com expectativa por quem adquire o hábito.

 

CONCLUSÃO

Faça, faça pouco, mas faça, se a cada dia você cumprir um mínimo de tarefa aos poucos você terá feito obra grande.


Faça sempre algo, não deixe passar um dia sem fazer algo intelectualmente útil e recompensador.


O trabalho intelectual demanda tempo, mas é preciso se aplicar aos pequenos trabalhos diários: uma leitura, uma frase, uma anotação, um fichamento, uma revisão, uma cópia.


Nisso consiste o trabalho intelectual e podemos realizá-lo em pequenas doses todos os dias.


Você vai se sentir mais feliz com um trabalho intelectual.


REFERÊNCIAS:

GUITON, Jean. O trabalho intelectual. Trad. SANTANA, Lucas Félix de Oliveira. Campinas: Kírion: 2018.


LEMBRE-SE: conhecimento bom é conhecimento compartilhado. Se você gostou desse conteúdo mande para quem pode se interessar pelo assunto.


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