O SEIXO DE MAKAPANSGAT
- Ribas Carneiro
- 22 de mar.
- 3 min de leitura
Atualizado: 28 de jul.
Um dos achados arqueológicos mais intrigantes e reveladores das origens do pensamento simbólico.
O SEIXO DE MAKAPANSGAT
Ela é uma pequena pedra avermelhada, com cerca de 260 gramas, e marcas naturais que lembram um rosto. Até aí tudo bem, não é impossível encontrar uma pedra que lembre um rosto, no entanto, essa foi encontrada em circunstâncias muito especiais.

Foto: O seixo de Makapansgat, hoje no Instituto de Estudos da Evolução da Universidade de Witwatersrand, na África do Sul. Fonte.
O seixo foi descoberto em 1925 pelo geólogo Wilfred Eitzman, na caverna de Makapansgat, na África do Sul, entre fósseis de Australopithecus africanus.
O mais interessante é que o material do seixo (jaspe) não é nativo da região. Isso sugere que um australopitecos carregou a pedra por quilômetros e a guardou em sua “morada”.
Apenas décadas depois o objeto chamou a atenção da comunidade científica. Aos poucos, os pesquisadores começaram a discutir sua possível importância para o desenvolvimento do pensamento simbólico entre os primeiros hominídeos.
Afinal, esse é um exemplo concreto de objeto reconhecido por um australopitecos como um objeto especial. Seriam, então, esses os primeiros hominídeos a reconhecerem um ícone como símbolo?

Foto: Reprodução hiperrealista da espécie Australopithecus Africanus do sítio Sterkfontein, África do Sul. Autora: Elisabeth Daynès . Fonte.
OS AUSTRALOPITECOS
Australopitecos é um gênero extinto de primata hominídeo que viveu na África entre aproximadamente 4,2 e 1,9 milhões de anos atrás.
Esses ancestrais dos humanos andavam parte do tempo sobre duas pernas. Mas eles ainda tinham características primitivas, como um cérebro pequeno e braços longos adaptados para subir em árvores.
Descobertas recentes revelaram a capacidade de produção de ferramentas líticas entre os australopitecos. Isso alterou a percepção sobre a espécie.
O Seixo de Makapansgat adiciona uma camada a mais de complexidade ao que sabemos sobre essa espécie e levanta várias outras questões.
MANUPORT
Os fósseis de Australopithecus africanus encontrados próximo desse seixo foram datados em 3 milhões de anos. Tudo leva a crer que foi nessa época que um desses indivíduos carregou a pedra para a caverna.
Esse seria então o primeiro manuport comprovado da espécie australopitecos. Manuport é o termo em inglês usado em arqueologia para se referir a objetos retirados da natureza e transportados intencionalmente por humanos ou seus ancestrais hominídeos.
O ato de carregar esse objeto é central nessa descoberta. Afinal, qual seria a razão de um australopiteco fazer isso? Ele teria identificado na pedra um símbolo?
PAREIDOLIA
O fenômeno psicológico de enxergar rostos em objetos inanimados é denominado pareidolia. O estudo desse fenômeno ajuda a entender como o cérebro processa imagens e padrões.
A pareidolia não é exclusividade da espécie humana nem dos primatas em geral. Na verdade, é fácil observar a pareidolia em cães e gatos, por exemplo.
Em termos evolutivos, essa capacidade se relaciona com a sobrevivência, sendo uma forma de reconhecer rapidamente predadores ou rostos humanos.
A pareidolia foi potencializada pelo cérebro humano. Ela tem, por exemplo, um papel fundamental no desenvolvimento de manifestações artísticas e do imaginário religioso. Não por acaso a identificação de rostos em rochas ou árvores tem papel relevante em várias mitologias.
Esse, porém, não era o caso dos australopitecos.
APENAS UM RECONHECIMENTO
Um indivíduo dessa espécie encontrou uma pedra com um desgaste natural que representa a forma de um rosto. Ele desenvolveu uma relação forte o suficiente com o objeto de modo a carregá-lo por uma longa distância e guardá-lo.
Residiria aí o pensamento simbólico?
Podemos crer que a pareidolia atuou num primeiro momento para o reconhecimento do seixo pelo australopitecos.
Mais importante, porém, é o fato de um indivíduo dessa espécie carregar consigo a pedra e guardá-la. Isso revela um desejo de posse. Algo que viria a se tornar central entre as futuras espécies hominídeas.
Além disso, o achado sugere que esse gênero de australopitecos tinha algum nível de curiosidade e afeto por um objeto em particular.
É tentador deduzir que um ancestral nosso, com um cérebro pouco evoluído, pode desenvolver o pensamento simbólico e estético. Se esse for o caso, porém, esse pensamento estaria num estágio muito primitivo, intimamente relacionado à pareidolia.
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