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O SEIXO DE MAKAPANSGAT

Atualizado: 28 de jul.

Um dos achados arqueológicos mais intrigantes e reveladores das origens do pensamento simbólico.


O SEIXO DE MAKAPANSGAT

Ela é uma pequena pedra avermelhada, com cerca de 260 gramas, e marcas naturais que lembram um rosto. Até aí tudo bem, não é impossível encontrar uma pedra que lembre um rosto, no entanto, essa foi encontrada em circunstâncias muito especiais.


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Foto: O seixo de Makapansgat, hoje no Instituto de Estudos da Evolução da Universidade de Witwatersrand, na África do Sul. Fonte.

  

O seixo foi descoberto em 1925 pelo geólogo Wilfred Eitzman, na caverna de Makapansgat, na África do Sul, entre fósseis de Australopithecus africanus.

 

O mais interessante é que o material do seixo (jaspe) não é nativo da região. Isso sugere que um australopitecos carregou a pedra por quilômetros e a guardou em sua “morada”.

 

Apenas décadas depois o objeto chamou a atenção da comunidade científica. Aos poucos, os pesquisadores começaram a discutir sua possível importância para o desenvolvimento do pensamento simbólico entre os primeiros hominídeos.

 

Afinal, esse é um exemplo concreto de objeto reconhecido por um australopitecos como um objeto especial. Seriam, então, esses os primeiros hominídeos a reconhecerem um ícone como símbolo?


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Foto: Reprodução hiperrealista da espécie Australopithecus Africanus do sítio Sterkfontein, África do Sul. Autora: Elisabeth Daynès . Fonte.

 

OS AUSTRALOPITECOS

Australopitecos é um gênero extinto de primata hominídeo que viveu na África entre aproximadamente 4,2 e 1,9 milhões de anos atrás.

 

Esses ancestrais dos humanos andavam parte do tempo sobre duas pernas. Mas eles ainda tinham características primitivas, como um cérebro pequeno e braços longos adaptados para subir em árvores.

 

Descobertas recentes revelaram a capacidade de produção de ferramentas líticas entre os australopitecos. Isso alterou a percepção sobre a espécie.

 

O Seixo de Makapansgat adiciona uma camada a mais de complexidade ao que sabemos sobre essa espécie e levanta várias outras questões.

 

MANUPORT

Os fósseis de Australopithecus africanus encontrados próximo desse seixo foram datados em 3 milhões de anos. Tudo leva a crer que foi nessa época que um desses indivíduos carregou a pedra para a caverna.

 

Esse seria então o  primeiro manuport comprovado da espécie australopitecos. Manuport é o termo em inglês usado em arqueologia para se referir a objetos retirados da natureza e transportados intencionalmente por humanos ou seus ancestrais hominídeos.

 

O ato de carregar esse objeto é central nessa descoberta. Afinal, qual seria a razão de um australopiteco fazer isso? Ele teria identificado na pedra um símbolo?

 

PAREIDOLIA

O fenômeno psicológico de enxergar rostos em objetos inanimados é denominado pareidolia. O estudo desse fenômeno ajuda a entender como o cérebro processa imagens e padrões.

 

A pareidolia não é exclusividade da espécie humana nem dos primatas em geral. Na verdade, é fácil observar a pareidolia em cães e gatos, por exemplo.

 

Em termos evolutivos, essa capacidade se relaciona com a sobrevivência, sendo uma forma de reconhecer rapidamente predadores ou rostos humanos.

 

A pareidolia foi potencializada pelo cérebro humano. Ela tem, por exemplo, um papel fundamental no desenvolvimento de manifestações artísticas e do imaginário religioso. Não por acaso a identificação de rostos em rochas ou árvores tem papel relevante em várias mitologias.

 

Esse, porém, não era o caso dos australopitecos.

 

APENAS UM RECONHECIMENTO

Um indivíduo dessa espécie encontrou uma pedra com um desgaste natural que representa a forma de um rosto. Ele desenvolveu uma relação forte o suficiente com o objeto de modo a carregá-lo por uma longa distância e guardá-lo.

 

Residiria aí o pensamento simbólico?

 

Podemos crer que a pareidolia atuou num primeiro momento para o reconhecimento do seixo pelo australopitecos.

 

Mais importante, porém, é o  fato de um indivíduo dessa espécie carregar consigo a pedra e guardá-la. Isso revela um desejo de posse. Algo que viria a se tornar central entre as futuras espécies hominídeas.

 

Além disso, o achado sugere que esse gênero de australopitecos tinha algum nível de curiosidade e afeto por um objeto em particular.

 

É tentador deduzir que um ancestral nosso, com um cérebro pouco evoluído, pode desenvolver o pensamento simbólico e estético. Se esse for o caso, porém, esse pensamento estaria num estágio muito primitivo, intimamente relacionado à pareidolia.

 

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Esse material foi redigido por um humano sem uso de inteligência artificial.

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