top of page

HISTÓRIA DA LEITURA ANTES DOS LIVROS

Como era ler e estudar na Idade Média, antes da invenção da imprensa e da difusão dos livros?


imagem medieval de Virgílio ao lado de baú de pergaminhos, de um manuscrito do século V-VI, presente no Folio 3v Biblioteca apostólica do Vaticano.

Virgílio ao lado de baú de pergaminhos. Manuscrito século v-vi d.C. Folio 3v Biblioteca Apostólica do Vaticano.


HISTÓRIA DA LEITURA NA IDADE MÉDIA

A vida intelectual se desenvolveu praticamente toda oralmente até a Idade Moderna. De modo geral, a voz estava no centro da cultura. A escrita servia como mero suporte.


Na Idade Média, nos monastérios da Europa, cantarolava-se, a sós ou em grupo, fórmulas que condensavam a ciência, a arte e a filosofia.


Há inclusive manuscritos contendo extratos de Horácio e Virgílio com notação musical, de modo a facilitar a memorização.


Os estudiosos decoravam trechos rimados e poéticos para conservar as ideias dos antigos in arca pectoris, no tabernáculo do coração, na tradução do latim para o português.

Os autores, por sua vez, ditavam ou recitavam seus textos, que eram registrados por um escriba.

ree

Representação de São Gregório no Antifonário de Hartker, de Sant Galen, Alemanha. Fonte.


No fim do século XII, surgiu uma gramática versificada que se tornou um manual largamente utilizado, o Memoriale, de Alexandre de Villedieu.


O professor normalmente decorava esse manual e o recitava para seus alunos em sala. Estes guardavam então o manual in pectoris, no peito, ou no coração, de cor.

ree

Página do Doctrinalle puerorum, de Alexandre de Villedieu. Fonte.


Não havia muita disponibilidade de papel, pergaminhos ou outros suportes para a escrita. Assim, se houvesse necessidade de algo para ajudar a memória, usava-se a tabula cerata. Tratava-se de uma tabuinha encerada na qual se gravava a anotação com a ajuda de um estilete.


Depois de decorar o trecho, bastava encerar novamente a tabuinha para a próxima anotação.


ree

Reprodução moderna de uma tabula cerata e do estilete utilizado para anotações.


Em tal contexto, o conhecimento, tanto de professores quanto de alunos, era medido pela quantidade de “textos” que se sabia de “memória” e se podia recitar.


Alguns estudiosos conseguiam, às vezes, decorar muitos textos. Isso era possível graças ao uso diligente de várias técnicas de memorização (mnemônicas) que envolviam ritmo, rima e até notações musicais.


Outra vantagem de se memorizar um texto era poder utilizar o pergaminho para anotar outra obra. Bastava raspar a tinta da escrita anterior que a o suporte estava pronto para receber novo texto.


Esses materiais reutilizados eram chamados palimpsestos (palavra de origem grega que originalmente significava “aquilo que se raspa para escrever de novo”). Mais tarde, esses materiais se revelaram preciosa fonte de textos antigos, pois é possível, a partir de algumas técnicas modernas, revelar o que estava escrito embaixo dos textos mais novos.


ree

Palimpsesto, Codex Ephraemi Rescriptus, no qual se pode ver as escritas sobrepostas. Fonte.


REFERÊNCIA

Se você tem interesse pela história da leitura e pela vida intelectual da Idade Média, você deve ler esse que é um dos mais interessantes estudos sobre a vida intelectual na Idade Média:

ZUMTHOR, Paul. A letra e a voz. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.


Gostou deste Bibliocanto?

Então mande um comentário.

Se não gostou, aponte os problemas. Só assim vou melhorar.

 

Lembre-se, conhecimento bom é conhecimento compartilhado. Se você realmente gostou mande para quem pode se interessar pelo assunto.


DISCLAIMER:

Essa é uma produção independente, sem patrocínio de qualquer natureza.

As menções a obras são espontâneas e não constituem indicação de compra.

Esse material foi redigido por um humano, sem uso de inteligência artificial.

Você pode usar trechos do texto, desde que cite a fonte.

Considere cadastrar-se no Bibliocanto, se ainda não o fez. Assim receberá os conteúdos diretamente em seu e-mail.

2 comentários

Avaliado com 0 de 5 estrelas.
Ainda sem avaliações

Adicione uma avaliação
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Olá, professor! Obrigado por compartilhar!Ótimo texto sobre a "História da leitura antes do livro". Gostei da dica de leitura também. (Aliás, comprei o " Aprender a estudar" do López para dar dicas ao meus alunos).O "Inscrever e apagar: Cultura escrita e literatura (séculos XI-XVIII)", do Roger Chartier" também seria uma leitura interessante para complementar a dica do livro do Zumthor. Nele, Chartier fala tanto das tabuleta de cera para a escrita quanto do palimpsesto. Abraço!

Curtir
Ribas Carneiro
Ribas Carneiro
09 de jun.
Respondendo a

Olá Joeverson! Há tempos aluno, agora colega, também professor!

Muito obrigado pela mensagem! Sim, o Chartier é um dos grandes autores a estudar a Idade Média. Quero um dia me dedicar a falar um pouco da obra dele. Grande dica a sua!

O López é importante para os alunos mesmo, é preciso reaprender a estudar, pois a coisa está complicada!

aliás, há similaridades muito interessantes entre o desenvolvimento da cultura na Idade Média e o que ocorre atualmente, por conta da internet e outras tecnologias, mas isso vai ser um conversa para o futuro. Ando pensando nisso há tempos e espero poder escrever num estudo mais profundo.

Um grande abraço meu caro Joeverson! Mantenha contato!

Curtir
  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram

©2023 por Bibliocanto. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page