COMO PRATICAR INGLÊS COM PEÇAS DE TEATRO
- Ribas Carneiro
- 9 de mai.
- 5 min de leitura
Você que gosta de praticar inglês, já leu uma peça no original acompanhando uma performance teatral no Youtube?
Recomendo!
Realizei a experiência e foi muito interessante, tanto em termos de treino de língua estrangeira quanto em relação à percepção estética.
Faço a seguir um breve relato. Pode interessar quem gosta de treinar o inglês em nível avançado. Ele serve também para aqueles que gostam de se aprofundar na literatura, nas artes dramáticas e particularmente em Samuel Beckett.
Para quem quer tentar a experiência
Se você tem realmente interesse na leitura de Waiting for Godot, um dos maiores clássicos da literatura em inglês, aqui vão alguns lembretes:
1. Essa é uma atividade para quem tem um bom nível de inglês. Trata-se de ler um texto original, sem adaptações, de um clássico da literatura universal.
2. Você deve ler atentamente o texto ANTES de acompanhá-lo com as performances existentes no Youtube. Os problemas de compreensão textual devem ser resolvidos nessa fase, você deve dominar o texto. O vídeo será um treino de oralidade e expressão.
3. Você pode buscar outros grandes autores contemporâneos para treinar. No Youtube é possível encontrar interpretações completas de peças de, entre outros, Tennessee Williams, Arthur Miller e Eugene O´Neill.
Como realizei a experiência?
Reli a peça Waiting for Godot, de Samuel Beckett, mas agora acompanhando a performance teatral com vídeos disponíveis no Youtube. Assisti ainda alguns pequenos trechos de atuação dos renomados intérpretes da obra beckettiana, Sir Ian McKellen e Sir Patrick Stewart.

Cena de montagem de Esperando Godot. Fonte.
Resultados em termos linguísticos
Claro que na leitura de uma peça em inglês a própria experiência de língua estrangeira é renovada. Literatura é linguagem viva numa de suas formas de expressão mais complexas. Nela entram em jogo diversas camadas de sentido.
Isso é muito mais evidente numa peça como Waiting for Godot, uma das principais obras do século XX.
A leitura atenta, cuidadosa e criteriosa desse texto permite uma experiência linguística profunda. E já poderíamos ficar por aí. Mas a releitura do texto acompanhando uma das interpretações disponíveis no Youtube amplia a percepção linguística.
Esse tipo de experiência faz o suporte textual ganhar forma oral. Por isso, toda a riqueza de tons de voz, interjeições, risos e chistes toma forma enquanto os olhos acompanham o texto.
A experiência também faz emergir a contextualização dos gestos e dos movimentos. Enfim, o texto, já rico por si, preenche-se de outras relações da língua viva.
Trata-se de um belo laboratório para o estudante! Um exercício que enriquece a experiência auditiva e de consciência das palavras em inglês.
Resultados em termos literários
Em termos literários foi uma experiência diferente. Eu conhecia bem a obra, já a tinha lido mais de uma vez, mas nunca havia assistido uma montagem da peça.
Digamos então que minha leitura foi até então mais “literária” e menos “dramática”.
Quero dizer com isso que eu compreendia bem a narrativa, a construção dos personagens e o desenrolar mesmo do drama. Porém, como vim a perceber, algumas nuances escapavam-me.
À medida que fui acompanhando a leitura do texto com a performance em vídeo, percebia algumas dessas nuances e alguns detalhes. Logo, a coisa toda ganhou uma profundidade que eu não tinha alcançado antes.
Por exemplo, há trechos na peça que eu lia mentalmente de forma trágica, mas que na interpretação teatral se apresentou de forma cômica. Essa alteração de contexto permitiu perceber novos sentidos para certos termos e sentenças e, é claro, alterou a minha compreensão literária do texto.
Afinal, os atores usam tons de voz, pausas e gestos que não estão necessariamente marcados nas rubricas da peça.
Deve-se considerar aqui que Beckett gostava dos filmes de Chaplin e Buster Keaton; era sua intenção que suas peças tivessem o humor e aqueles movimentos rápidos do cinema mudo.
Numa leitura atenta podemos até imaginar isso, mas o suporte visual amplia muito a experiência.
O uso de peças para estudar inglês
Há tempos, as peças têm sido exploradas pelos professores de língua estrangeira.
Isso se dá porque o texto literário por si já é necessariamente uma construção linguística complexa. Trata-se, então de um texto que um conhecedor avançado de língua estrangeira deve ser capaz de acessar.
As peças teatrais, por sua vez, são particularmente interessantes para os estudantes. Além da complexidade estética e linguística , elas ainda mantêm elevado nível de oralidade, mesmo em formato escrito.
Grupos teatrais em que os estudantes podiam atuar na língua-alvo era algo comum há até pouco tempo em centros de língua. Não sei como está hoje, mas cheguei a assistir peças de algumas escolas de línguas.
Por que ler Samuel Beckett?
Trata-se de uma escolha pessoal. Entre tantas peças que lí nas aulas de literatura na faculdade, Waiting for Godot em especial causou-me grande impressão.
Essa é umas das melhores peças que já li. Trata-se ainda de uma dupla recompensa, pois há também o orgulho de ler (e entender!) um texto de tal qualidade no original.
Lembro de ter ficado tão empolgado na época que acabei lendo outra peça de Samuel Beckett, Play, e ter ficado ainda mais impressionado.
Aquela foi minha fase de teatro do absurdo, sendo Eugène Ionesco e Harold Pinter outros dois autores que me ficaram na memória.
Por que recorrer aos vídeos do Youtube?
Agora, décadas depois, voltei a Samuel Beckett. Dessa vez me propus a ler toda a sua obra dramática.
O autor é revolucionário, um experimentador incrível e suas peças não necessariamente se enquadram nos esquemas da dramaturgia tradicional. Em algumas o experimentalismo é tal que a leitura, em termos literários, fica truncada.
Em uma peça tradicional, o fio condutor é constituído pelos diálogos e as rubricas têm um valor acessório. Em Beckett é um bocado diferente, em muitos casos há muitas rubricas em meio a interjeições curtas dos personagens.
Em parte por causa dessa particularidade senti a necessidade do contato com a performance para uma completa compreensão textual. Decidi, então, recorrer à tecnologia.
Busquei no Youtube as peças de Beckett; há muita coisa e decidi acompanhar as performances teatrais lendo simultaneamente as peças.
Fontes utilizadas
Há muitas edições da peça de Beckett pela Farber & Farber. O texto que utilizei está inserido no volume:
BECKETT, Samuel. The Complete Dramatic Works. London: Farber & Farber, 2006.
Os vídeos utilizados para acompanhar a leitura foram:
Beckett directs Beckett Waiting for Godot Part I – Apesar do título, Beckett jamais dirigiu uma peça televisionada. Essa produção, aliás, deixa muito a desejar. Além disso, o segundo ato está separado do primeiro e deve ser procurado algures no Youtube.
Waiting for Godot – Gravação antiga, talvez seja essa a que tenha sido detestada pelo autor. Pelo menos o segundo ato fica no mesmo vídeo.
Patrick Stewart & Ian McKellen on Broadway, Bowler Hats and Beckett – Curto trecho de entrevista de dois grandes atores, o mais impressionante é ver em apenas 1 minuto de encenação o poder de interpretação dessa dupla e o potencial da peça.
Post scriptum
Realizei a mesma experiência com a peça Endgame, também de Samuel Beckett. Trata-se de uma obra bem diferente de Waiting for Godot, cuja complexidade é melhor ou mais facilmente percebida quando temos o suporte oral e visual. No Youtube assista Endgame aqui.
Este foi um Bibliocanto diferente, voltado para uma prática de estudo.
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