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Bibliocanto Volume XXVII

Atualizado: 22 de jun.

Vamos tratar da aurora da grande diversidade étnica e cultural da humanidade.

 

O PERÍODO NEOLÍTICO

Com o fim da última glaciação, o ambiente terrestre sofreu importantes alterações, como o desaparecimento da megafauna e o surgimento de imensos campos férteis, além de um clima mais ameno.

Isso fez os humanos se adaptarem. Para além de caçadores, eles passam a se alimentar mais rotineiramente de vegetais e descobrem os cereais. Aos poucos nasce a agricultura e com ela se inicia o Período Neolítico.

Com a agricultura, a capacidade de adaptação dos humanos aumentou. Assim, eles se espalharam por todos os cantos da Terra, inclusive atingindo as Américas e a Austrália. Os diversos grupos desenvolveram modos diferentes de vida, dando origem à mais ampla variedade étnica e cultural que podemos imaginar.

Considera-se, tradicionalmente, que, junto da agricultura, o Período Neolítico começou há uns 12 mil anos e terminou há 5,5 mil anos. A realidade, porém, é que existem povos neolíticos até hoje.

Na Amazônia, por exemplo, ainda há tribos isoladas e grupos ianomâmis quase intocados, além disso, numa remota ilha do Oceano Índico, os sentineles vivem suas vidas como há milhares de anos. Ele permanecem intocados, e as tentativas de contato são abordada num interessante documentário sobre esse povo, em inglês.

Em termos culturais, o Período Neolítico é decisivo para a existência humana. Além das artes rupestres, herdadas do Paleolítico, há o desenvolvimento de tecnologias de plantação, caça e pesca, preservação de alimentos, além da cestaria, da cerâmica e da tecelagem; mais relevante ainda é a adoção de novas ferramentas, com o uso da pedra polida.

A música, a pintura, a escultura e a literatura oral se desenvolvem extraordinariamente.

Isso se deve, em grande parte, ao crescimento populacional. Há um salto demográfico ocasionado pela melhoria de condições de vida proporcionada pela agricultura e os assentamentos por períodos mais longos em determinadas regiões.

Em meio aos processos práticos de sobrevivência, desenvolvem-se tecnologias de plantação, caça, preservação de alimentos e produção de utensílios.

As diversas sociedades se organizam à medida em que crescem, com grandes grupos familiares se associamndo a outros, formando tribos. Em aglomerações cada vez maiores, há necessidade de distribuição do trabalho e dos bens comuns, além da estruturação de uma cadeia de mando e controle.

As várias tentativas de organização estão relacionadas às diferentes formas que os grupos humanos encontraram de entender o mundo ao seu redor e classificar as coisas. Em outras palavras, as tentativas de organização social foram resultado do pensamento abstrato dos humanos.

Uma das formas de pensamento abstrato entre os povos ditos primitivos é o totemismo. Trata-se de um modo de compreensão do universo ao redor em termos de relações, que podem ser feitas entre elementos sociais, animais e objetos. O totemismo gerou estruturas sociais que desembocariam, mais tarde, nos sistemas de castas.


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Mulher Papuan Tambul, Eastern Highlands, Papua Nova Guiné (fonte). A imensa variedade étnica e cultural da humanidade surgiu com a emergência do período neolítico.


O NEOLÍTICO SUCEDE AO PALEOLÍTICO SUPERIOR

Em outro Bibliocanto eu tratei da aurora da humanidade, dos primeiros hominídeos, entre eles os australopitecos. Lá também abordei o sucesso do Homo erectus, a espécie hominídea mais bem sucedida até hoje, sobrevivendo praticamente 1,5 milhão de anos.

Outros tantos ancestrais remotos fazem parte da história. Mas o fato é que, há cerca de 300 mil anos surge a nossa espécie. Ela convive durante muito tempo com outros hominídeos até que há uns 35 mil anos eles tinham desaparecido por completo.

O período de predominância do Homo sapiens utilizando as tecnologias relacionadas à pedra lascada e dependente da caça para sua sobrevivência é denominado paleolítico superior. Nessa época os humanos já sabem produzir e manejar o fogo, usam ferramentas feitas de pedra, osso, marfim e madeira, nas regiões mais frias se protegem com peles e usam algumas fibras vegetais.

Como se trata de nossa espécie, humanos modernos, já há o uso intenso de linguagem oral. Com a linguagem vem o pensamento complexo, as cosmogonias, a crença num universo extraterreno, talvez na vida pós-morte. Há ainda as artes. Desse período temos resquícios de instrumentos musicais, flautas feitas de osso. É ainda a época de algumas das mais impressionantes pinturas rupestres de que se tem notícia.

O homem paleolítico registra parte de seu cotidiano e suas crenças em rochedos e cavernas. Ele também produz esculturas em pedra, marfim, osso e madeira. Sobrevivendo num ambiente bastante inóspito, em meio a feras imensas, o Homo sapiens se espalha por quase todo o planeta. Saindo da África percorre toda a Eurásia, desde a costa da Península Ibérica até as ilhas do Japão e, ao sul, atravessa a região da atual Indonésia e povoa a Austrália.

Faltava as Américas, mas uma janela de oportunidade fez com que mesmo aquele isolado continente ganhasse sua população.

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Aborígenes australianos (fonte).


DRYAS RECENTE

O período conhecido como Dryas Recente (Younger Dryas) se refere a um episódio climático que ocorreu entre 12.900 e 11.700 anos atrás. Trata-se de um período de resfriamento abrupto, que interrompeu brevemente o aquecimento global que estava acontecendo no final da última era glacial.

O evento teve impactos substanciais sobre a flora e a fauna em muitas partes do mundo, levando a mudanças nas comunidades biológicas e na distribuição geográfica das espécies.

Esse episódio climático teve implicações significativas para a história humana, influenciando a transição das populações humanas de caçadores-coletores para sociedades agrícolas em algumas regiões do mundo.

O final do Dryas Recente tornou-se uma verdadeira janela de oportunidade para o homem povoar as Américas. O congelamento abrupto fez com que o nível dos oceanos baixasse sensivelmente. Dessa forma, formou-se um grupo de ilhas próximas na região do estreito de Bering, entre o continente americano e a Ásia, além do recuo de uma imensa geleira, que permitiu a passagem de animais e humanos durante um determinado período.

Dessa forma, há cerca de 12 mil anos os humanos começaram a povoar as Américas, mas em pouco tempo perderam o contato com seus ancestrais, pois a tênue ligação entre a América e a Ásia se fechou com o aumento do nível das águas.


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Mulheres inuit com parkas tradicionais de pele (fonte).


A CULTURA CLÓVIS E A PRIMEIRA POVOAÇÃO DA AMÉRICA

Quem foram esses primeiros exploradores das Américas?

Os mais antigos resquícios humanos encontrados nas Américas datam de cerca de 13000 a.C. a 11000 a.C. Trata-se, em sua maioria, de pontas de lança de pedra lascada que revelam uma tecnologia muito parecida de produção. Por conta dessa semelhança tecnológica, a esses grupos humanos, que se espalharam por uma área imensa, desde o Alasca até a região do México, deu-se a denominação de Cultura Clóvis.

 Não se trata, assim, de um grupo social ou étnico único, mas sim de diferentes grupos humanos que utilizavam uma tecnologia de produção de ferramentas relativamente parecida. Os artefatos da Cultura Clovis indicam que seus povos eram caçadores-coletores altamente adaptados, capazes de caçar grandes mamíferos, especialmente mamutes, e se mover eficientemente através de vastas áreas geográficas.


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Pontas de lança de pedra lascada, chamadas de "Pontas de Projétil Clovis", que foram utilizadas para caçar grandes mamíferos como mamutes e mastodontes. Foto de Michael Waters (fonte).


PERÍODO DE TRANSIÇÃO: O MESOLÍTICO

Logo após o Dryas Recente, há um período de transição entre o Paleolítico e o Neolítico que os estudiosos denominam Mesolítico. Trata-se de um período em que as comunidades humanas começaram a transição de uma economia de caça e coleta nômade para uma economia mais complexa, que já envolvia alguma forma incipiente de agricultura e domesticação de animais.

Esse período é caracterizado por um maior desenvolvimento de ferramentas de pedra, especialmente a criação de ferramentas especializadas para a caça, pesca e coleta de alimentos.

Durante o Mesolítico, as comunidades humanas começaram a estabelecer acampamentos mais permanentes em determinadas áreas, embora ainda fossem em grande parte nômades em comparação com as comunidades do Neolítico que viriam depois.

Os artefatos do Mesolítico, como pontas de flechas, machados de pedra polida e anzóis de osso, indicam uma evolução tecnológica que provavelmente repercutiu nas práticas sociais e culturais daqueles povos. Além disso, desse período, há importantes resquícios de práticas de sepultamento e crenças espirituais, o que evidencia uma crescente complexidade cultural e social.


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QUADRO GERAL DOS PERÍODOS PRÉ-HISTÓRICOS

As datações desses períodos não são bem determinadas. Em certas regiões não houve um período de transição, da mesma forma alguns povos mantiveram-se na tecnologia paleolítica até seu fim, superados por povos neolíticos.

É possível fazer um quadro geral desses períodos, mas as descobertas arqueológicas recentes têm alterado bastante a compreensão sobre nosso passado remoto.


LEMBRE-SE: conhecimento bom é conhecimento compartilhado. Se você gostou desse conteúdo mande para quem pode se interessar pelo assunto.


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