top of page

Bibliocanto Volume XXI

Olá pessoal!

Desta vez vamos tratar de um dos melhores livros infantis de todos os tempos. Particularmente recomendado para crianças a partir dos 5 anos, pode ser lido pelos pais até para os mais novinhos.

Para quem não tem, ainda, o hábito da leitura, creio que esse seja também um bom caminho.

AS AVENTURAS DE PINÓQUIO, DE CARLO COLLODI, UM LIVRO IMPRESCINDÍVEL

Le avventure de Pinocchio – Storia de un burattino, título original de Pinóquio é um dos maiores clássicos de todos os tempos. Publicado incialmente em folhetim, ganhou edição em livro em 1883 e desde então tem sido traduzido e editado em todo lugar.

O texto contém 36 capítulos cheios de aventuras e reviravoltas, características da literatura de folhetim. Como você já sabe, os folhetins eram publicados em jornais semanalmente, por isso, cada capítulo deveria trazer muita aventura. Era comum haver uma reviravolta total nos acontecimentos, tudo a partir de um gancho que remetia aos acontecimentos anteriores e um final que trazia suspense, criando ansiedade pelo próximo capítulo.

As aventuras de Pinóquio poderia ser considerado um romance infantil de aventura, por conta de todos os desencontros, as reviravoltas, as temerárias tomadas de decisão do protagonista. Por outro lado, também poderia ser classificado como romance de formação, pois Pinóquio cresce ao longo do tempo, aprendendo com suas desventuras.

Esse livro também poderia ser considerado um romance de fantasia, com boneco que fala, bichos malandros, mutações, uma fada e Gepeto morando quase dois anos na barriga de um gigantesco tubarão.

Tais classificações, no entanto, de nada servem. Como toda obra clássica, também essa acaba por fugir de categorizações simplificadoras. Normalmente, os textos que superam o tempo são aqueles mais difíceis de classificar. E As aventuras de Pinóquio é uma obra que deve ser lida.

ree

Cartaz do filme do filme Pinóquio, da Disney, 1940.


O PROTAGONISTA

Mais importante é observar o personagem central. Pinóquio é extremamente cativante. Ele é o menino inocente, meio malandro, que vive caindo em erro. Impossível não se identificar, esse boneco é realmente muito humano. Podemos até considerá-lo um anti-herói, que sofre, se atrapalha, é humilhado, castigado, mas tem uma recompensa ao final. Talvez pudéssemos dizer que esse boneco é um dos mais bem acabados heróis do romance picaresco.

Pinóquio é um personagem muito bem construído. Suas dúvidas, suas decisões, seus sentimentos não são meramente descritos, eles aparecem de maneira natural em meio à ação, como deve ser num bom livro. Apenas analisando o protagonista já dá para ter certeza de que não se trata de um livrinho qualquer desses modernos para crianças, cujos personagens não têm profundidade.

Pinóquio revela-se em suas ações e linguagem, fazendo-nos apaixonar por ele. Particularmente engraçados são os momentos em que a marionete narra o que lhe sucedeu. Todo emocionado, Pinóquio se expressa como aquelas crianças que falam rapidamente, atropelam os fatos, invertem as ordens, comem palavras na ânsia de contar tudo em pouco tempo.

UM PERSONAGEM QUE CRESCE E APRENDE

Pinóquio é ainda o personagem que aprende com sua jornada, uma característica de romance de formação.

Entre o “nascimento” de Pinóquio e o fim da narrativa passam-se cerca de três anos. O primeiro dia já é cheio de aventura, mal tinha sido fabricado, Pinóquio faz uma de suas correrias e Gepeto acaba por ser preso. Assim, em sua primeira noite, o boneco está sozinho e com fome.

No outro dia, Pinóquio revê Gepeto, que acaba por vender seu único paletó para comprar cartilhas para as aulas. Matriculado, na manhã seguinte, quando para de cair a neve, começa a primeira grande aventura da marionete. Ao invés de ir para a escola, ele vende as cartilhas para ver o teatro de marionetes.

É claro que Pinóquio acaba sendo reconhecido pelos outros bonecos e é encontrado pelo dono do teatro. Quando tudo parece estar bem, o dono do circo decide se aquecer e para isso quer usar a nova marionete como lenha para o fogo. Mas há uma reviravolta. Pinóquio ganha ouro, sai livre pelo mundo e sonha em recompensar o velho Gepeto.

Logo depois ele encontra a raposa e o Gato. Novas aventuras, o leitor se tortura vendo o boneco sendo enganado, mas ao mesmo tempo ficamos revoltado com as bobagens que ele faz. Trata-se de um personagem complexo que nos faz sofrer ao mesmo tempo que nos divertimos com as tiradas cômicas.

É importante termos claro que se trata de um livro muito divertido, que vai agradar as crianças e os pais. Essa é realmente uma leitura para todos, adultos e crianças.

ree

Pinocchio por Enrico Manzanti (1852-1910), ilustrador da primeira edição, de 1883.


UMA OBRA COM GRANDE PROFUNDIDADE

Pinóquio flutua entre o universo da fantasia e da vida real. A parte realista retrata o universo das pessoas pobres, marceneiros, sapateiros, funcionários de circo, camponeses, pescadores. A vida com poucos recursos está presente em todo o universo do, digamos, mundo adulto.

Pinóquio, no entanto, é um pedaço de madeira que fala. Elemento de transição entre dois universos, ele fala com os adultos, com as crianças e com os bichos. Por meio dele o realismo cede espaço para o mundo das fábulas tradicionais. Isso fica evidente quando Pinóquio fala com animais, como o Grilo Falante ou a dupla de malandros formada pela Raposa e pelo Gato.

Há, porém, mais um nível narrativo, mais mágico ou fantástico, com a presença da Fada de Cabelos Azuis ou a transformação das crianças em burros. Nesses casos temos uma intercessão divertida entre o universo realista e o mágico em que não há espaço para a pura fábula e tampouco para o realismo focado na miséria humana.

Nesse momento de magia há um fundo de realismo, como uma moldura, mas no centro temos um universo mágico, cheio de fatos extraordinários, inexplicáveis e perfeitamente combinados, sem causar estranhamento ao leitor.

É dessa forma que vemos Gepeto indo parar, por dois anos, na barriga de um imenso tubarão. Como ele sobreviveu lá? Com a comida de um navio cargueiro que fora engolido pelo gigante.

Há ainda a imensa cobra no meio do caminho que explodiu de rir. Há também o caramujo que demorou horas e horas para resgatar Pinóquio que tiritava de frio com o pé preso na porta. Essas são cenas engraçadas, envolventes e em nada fora do que se espera da narrativa.

VOCÊ VAI SE SURPREENDER COM ESSE LIVRO

Existe um conceito popular desse livro que foi construído em partes pelas produções cinematográficas e televisivas. Mas o contato com o texto escrito vai surpreender a todos.

É interessante notar o quanto é divertido o primeiro capítulo, que de certa forma dará o tom de toda a narrativa. O senhor Cereja, assim chamado por causa de seu narigão vermelho, está sozinho em sua oficina quando ouve um pedaço de madeira que daria uma boa perna de mesa reclamar das batidas do machado. Sem acreditar, ele se assusta e acaba desmaiando.

Logo depois, chega Gepeto e os dois velhos discutem, brigam, rolam pelo chão e depois fazem as pazes. Gepeto ainda ganha a madeira que falava. Essa madeira, é claro, dará origem à famosa marionete. Tudo isso ocorre de forma muito rápida, com a leitura se desenvolvendo em ritmo acelerado.

UMA OBRA COM GRANDE PROFUNDIDADE

Pinóquio flutua entre o universo da fantasia e da vida real. A parte realista retrata o universo das pessoas pobres, marceneiros, sapateiros, funcionários de circo, camponeses, pescadores. A vida com poucos recursos está presente em todo o universo do, digamos, mundo adulto.

Pinóquio, no entanto, é um pedaço de madeira que fala. Elemento de transição entre dois universos, ele fala com os adultos, com as crianças e com os bichos. Por meio dele o realismo cede espaço para o mundo das fábulas tradicionais. Isso fica evidente quando Pinóquio fala com animais, como o Grilo Falante ou a dupla de malandros formada pela Raposa e pelo Gato.

Há, porém, mais um nível narrativo, mais mágico ou fantástico, com a presença da Fada de Cabelos Azuis ou a transformação das crianças em burros. Nesses casos temos uma intercessão divertida entre o universo realista e o mágico em que não há espaço para a pura fábula e tampouco para o realismo focado na miséria humana.

Nesse momento de magia há um fundo de realismo, como uma moldura, mas no centro temos um universo mágico, cheio de fatos extraordinários, inexplicáveis e perfeitamente combinados, sem causar estranhamento ao leitor.

É dessa forma que vemos Gepeto indo parar, por dois anos, na barriga de um imenso tubarão. Como ele sobreviveu lá? Com a comida de um navio cargueiro que fora engolido pelo gigante.

Há ainda a imensa cobra no meio do caminho que explodiu de rir. Há também o caramujo que demorou horas e horas para resgatar Pinóquio que tiritava de frio com o pé preso na porta. Essas são cenas engraçadas, envolventes e em nada fora do que se espera da narrativa.

VOCÊ VAI SE SURPREENDER COM ESSE LIVRO

Existe um conceito popular desse livro que foi construído em partes pelas produções cinematográficas e televisivas. Mas o contato com o texto escrito vai surpreender a todos.

É interessante notar o quanto é divertido o primeiro capítulo, que de certa forma dará o tom de toda a narrativa. O senhor Cereja, assim chamado por causa de seu narigão vermelho, está sozinho em sua oficina quando ouve um pedaço de madeira que daria uma boa perna de mesa reclamar das batidas do machado. Sem acreditar, ele se assusta e acaba desmaiando.

Logo depois, chega Gepeto e os dois velhos discutem, brigam, rolam pelo chão e depois fazem as pazes. Gepeto ainda ganha a madeira que falava. Essa madeira, é claro, dará origem à famosa marionete. Tudo isso ocorre de forma muito rápida, com a leitura se desenvolvendo em ritmo acelerado.

UM NARRADOR MUITO INTERESSANTE

Cabe notar ainda como se constitui o narrador dessa história. Trata-se de um intrometido, que aparece aqui e ali comentando sobre acontecimentos ou personagens. Ele guia os leitores, e ouvintes, de forma leve e animada em meio às tragédias da narrativa. Somos apresentados a esse narrador logo nas primeiras linhas:

“Era uma vez...

– Um rei! – dirão logo os meus pequenos leitores.

– Não, crianças, erraram. Era uma vez um pedaço de madeira.”

A quebra de expectativa, logo nas primeiras linhas, é uma marca que será retomada ao longo do livro. As reviravoltas, as confusões, todos os desencontros já estavam previstos nessas primeiras quatro linhas. E o leitor será conduzido justamente por esse narrador intrometido e malandro.

Esse narrador todo especial é referenciado até por Umberto Eco, em seu Seis passeios pelos bosques da ficção.

ree


SEUS FILHOS (E VOCÊ) DEVERIAM CONHECER ESSA OBRA

É uma dádiva poder contar com um livro tão divertido e tão rico para nossas crianças. Ele precisa ser apresentado pelos pais, na hora da leitura antes de dormir. Esse momento crucial para a formação do futuro leitor.

Esse livro, apesar de suas qualidades estéticas, não frequenta com grande assiduidade as salas de aula. Certamente seria muito mais proveitosa essa leitura do que muita coisa de má qualidade que anda a ser empurrada goela abaixo de nossos filhos por aí.

Em casa, a leitura desse livro para as crianças não será um peso para os pais, divertirá a todos. E se você é um adulto, mesmo sem filhos, considere que As aventuras de Pinóquio é um clássico que deve ser conhecidos por todos que querem ter cultura literária.

No Brasil, é possível encontrar uma excelente edição publicada pela Companhia das Letrinhas. Trata-se de uma tradução feita pela escritora Marina Colasanti diretamente do original. Ela mantém a vivacidade da linguagem, fácil para as crianças, mas sem barateamento de vocabulário. Eventuais palavras difíceis podem ser facilmente explicadas pelo adulto que lê.

REFERÊNCIA:

COLODI, Carlo. As aventuras de Pinóquio: história de uma marionete. Trad. COLASANTI, Marina; Ilust.: MORAES, Odilon. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2002.


COMENTE

Você já leu As aventuras de Pinóquio? Se leu, mande seu comentário. Se não leu e tem alguma pergunta também fique à vontade.


LISTA DE BIBLIOCANTOS JÁ PUBLICADOS

Não organizei, desde o começo, meus Bibliocantos por temas. Escrevo o que dá vontade na semana. Mas para quem quiser conhecer os outros conteúdos, preparei uma lista com seus temas. Parte da comemoração de 20 semanas de Bibliocanto. Dê uma olhada.

LISTA DE BIBLIOCANTOS COM OS ASSUNTOS ABORDADOS

VOLUME 1 – Vida intelectual, definição, sua importância e indicação de práticas diárias.

VOLUME 2 – Leitor e leitura; a arte de ler, por Emile Faguet; o leitor por Daniel Pennac.

VOLUME 3 – Pinturas rupestre da Serra da Capivara; pré-história dos índios do Brasil; arte rupestre; toponímia.

VOLUME 4 – Representações artísticas relativas à Paixão de Cristo; uso de iniciais maiúsculas em pronomes para se referir à Divina Trindade.

VOLUME 5 – Miguel Bakum; Como estudar, por Emílio mira y López.

VOLUME 6 – a Carta de Achamento, de Pero Vaz de Caminha; o ponto-e-vírgula.

VOLUME 7 – Techno Viking, um dos primeiro memes da história da internet; fichas de leitura: importância e como fazer.

VOLUME 8 – A viagens de Pinzón e Diogo de Lepe à costa do Brasil antes de Cabral; Como praticar o inglês com peças de teatro, em particular as de Samuel Beckett.

VOLUME 9 – Guido Viaro; Macchiaioli, corrente artística de pintores italianos.

VOLUME 10 – A Viagem do francês Goneville, em 1503 à costa do Brasil e a construção do mito da França Antártica.

VOLUME 11 – Por que você precisa de literatura? Ensaio sobre a importância dela na sua vida.

VOLUME 12 – Os mais antigos artefatos de hominídeos; Homo erectus; Homo habilis; Homo neanderthalensis; Homo sapiens; evolução do paleolítico inferior.

VOLUME 13 – a emergência do Homo sapiens; as vênus paleolíticas; apropriação cultural como estratégia de sobrevivência.

VOLUME 14 – Ralph Waldo Emerson e seu conceito de história.

VOLUME 15 – Como nascem os mitos? Padre Cícero e Lampião e as origens dos mitos.

VOLUME 16 – Origens das lendas e da mitologia; as origens da Ilíada, de Homero.

VOLUME 17 – a origem da linguagem: O Homo erectus e o início do pensamento abstrato e estético.

VOLUME 18 – Paul Garfunkel; a técnica da aquarela.

VOLUME 19 – Cristovão Colombo; a visão do homem medieval frente ao Novo Mundo.

VOLUME 20 - Música e pintura de teto barroca; tromp d'leau.


LEMBRE-SE: conhecimento bom é conhecimento compartilhado. Se você gostou desse conteúdo mande para quem pode se interessar pelo assunto.


DISCLAIMER Essa é uma produção independente, sem patrocínio de qualquer natureza. As menções a obras são espontâneas e não constituem indicação de compra.

 
 
 

Comentários

Avaliado com 0 de 5 estrelas.
Ainda sem avaliações

Adicione uma avaliação
  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram

©2023 por Bibliocanto. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page