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Bibliocanto Volume XX

Olá pessoal!

Este é o vigésimo bibliocanto! Sim, a vigésima semana em que eu escrevo um post. Confesso que houve vezes em que achei que não seria possível, mas consegui.

Eis algumas marcas dessas 20 semanas:

22 pessoas cadastradas no site;

12 pessoas recebem os Bibliocantos semanais (há um problema técnico em relação a e-mails inativos, quero ver se resolvo em breve);

9 pessoas abrem (e talvez leiam) regularmente os Bibliocantos;

546 seguidores no Facebook (mas já havia seguidores antigos na página)

25 seguidores no Instagram;

3 seguidores no Twitter;

Esses números foram alcançados sem divulgação, a não ser aquela muito pessoal. Por isso, posso dizer que vocês formam um público seleto e amigo. Meu grande obrigado a todos.

Vou ver se encontro forças (e tempo) para mais Bibliocantos.

Agora, para comemorar o 20º Volume, vou fazer um Bibliocanto diferente e vou começar com música.

MINHA MÚSICA FAVORITA

Escute essa música no Youtube clicando na imagem, numa gravação com o Coro Monteverdi e a regência impecável de Sir John Eliot Gardine

Apenas aprecio música, sem nenhum estudo mais profundo. Assim, tudo o que eu disser aqui é do ponto de vista de um leigo.

Quando a gente não tem muito conhecimento sobre um assunto acaba resvalando mesmo para a impressão pessoal. É o que vou fazer aqui, por isso começo lembrando minha história pessoal com essa que se tornou minha música favorita: Dixit Dominus (HWV232), de Häendel.

A primeira vez que ouvi essa composição foi por volta dos meus 17 ou 18. Naqueles tempos, eu ouvia uma rádio que tinha uns poucos programas de música erudita, que eu às vezes gravava em fitas K7. Uma dessas gravações calhou de registrar justamente essa música, da qual eu sequer sabia o nome, mas ouvi-a milhares de vezes pelos anos seguintes, até a fita se perder, os toca fitas desapareceram e eu só tinha a música na memória. Apenas recentemente, graças à internet, descobri de qual música se tratava e de lá pra cá tem sido minha favorita para os intervalos de estudo e trabalho.

O que gosto nela? Essa música tem um tom muito vibrante, movimentado, violento mesmo. Isso porque se trata do trabalho de Häendel em musicar o Salmo 110 (Disse o Senhor). Esse Salmo trata do poder que Deus dá ao Rei de Israel contra Seus inimigos, daí esse ritmo belicoso, o tom guerreiro tão interessante.

Isso sem falar no virtuosismo exigido do coro e da orquestra. Cada movimento ainda hoje me surpreende, mesmo depois de ouvir a mesma música e gravação quase todos os dias.

Detalhe da Capela Sistina, por Michelangelo.


SOM E IMAGEM

É fácil associar o Dixit Dominus a anjos cantando nos céus. Isso se dá especialmente em relação ao penúltimo movimento, com as duas vozes femininas e a entrada forte do coro. Era esse o efeito desejado pelo compositor.

O Dixit Dominus, de Häendel, é um exemplar bem acabado de composição barroca, que se volta também para o alto, para os céus, para a glória. O compositor e outros tantos artistas da época tentavam se superar, ultrapassar os limites da mera humanidade e revelar a grandiosidade de Deus.

Nesse sentido, é interessante perceber as relações existentes entre música e pintura no barroco. Há várias pinturas em que se nota o desejo de fazer com que quem contempla “ouvisse” o sons celestes por meio de imagens. Isso faz, entre outras coisas, que se fortaleça o tema dos anjos músicos.

Essa temática se combinava com a técnica do trompe-l’oeil, com a qual se cria a ilusão de ótica de profundidade de três dimensões num plano. Foi usada com maestria por Michelangelo na Capela Sistina e no barroco teve sua expressão máxima nas cenas celestes dos tetos das igrejas.

Teto da Igreja de São Francisco, em Ouro Preto, Minas Gerais. Obra de Mestre Ataíde (1762-1830).


UM TETO MINEIRO

A partir do Renascimento, e sob a influência da pintura do teto da Capela Sistina, houve grande profusão de pinturas de teto nas igrejas pelo mundo afora. No Brasil, alguns dos exemplares mais impressionantes de pintura de teto foram desenvolvidos em Minas Gerais.

Em Ouro Preto, na Igreja de São Francisco, encontra-se a pintura do teto feita por Mestre Ataíde, que retrata a Glorificação de Nossa Senhora. A cena, descrita nos Livro dos Atos dos Apóstolos, é relativa à elevação da Mãe de Cristo aos céus, pelos braços dos anjos. Na pintura, vários deles cantam glórias a Maria Mãe de Deus com seus instrumentos musicais.

Um dos efeitos desse tipo de pintura é a impressão criada de que o teto se abre para o céu. A obra é tão impressionante que nem o poeta Carlos Drummond de Andrade escapou ileso. Ele acabou escrevendo um belo poema em que lamenta sua falta de fé em Deus para contemplar adequadamente aquela pintura:

Senhor, não mereço isto.

Não creio em vós para vos amar.

Trouxestes-me a São Francisco

E me fazeis vosso escravo.

Não entrarei, senhor, no templo,

Seu frontispício me basta.

Vossas flores e querubins

São matéria de muito amar.

Dai-me, senhor, a só beleza

Destes ornatos. E não a alma.

Pressente-se a dor de homem,

Paralela à das cinco chagas.

Mas entro e, senhor, me perco

Na rósea nave triunfal.

Por que tanto baixar o céu?

Por que esta nova cilada?

Senhor, os púlpitos mudos

Entretanto me sorriem.

Mais que vossa igreja, esta

Sabe a voz de me embalar.

Perdão, Senhor, por não amar-vos.

O poema capta o propósito da Grande Arte, com letra maiúscula mesmo. Uma pintura como a da Igreja de São Francisco, uma música como o Dixit Dominus, de Häendel, a arquitetura da Capela Sisitna ou da Biblioteca da Abadia de Admont servem para nos elevar e termos consciência de nossa fragilidade, enfim, para nos aproximarmos de Deus.

Biblioteca da abadia de Admont, Áustria, joia da arquitetura barroca.


LEMBRE-SE: conhecimento bom é conhecimento compartilhado. Se você gostou desse conteúdo mande para quem pode se interessar pelo assunto.


DISCLAIMER Essa é uma produção independente, sem patrocínio de qualquer natureza. As menções a obras são espontâneas e não constituem indicação de compra.

 
 
 

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