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Bibliocanto Volume XVIII

Paul Garfunkel é um pintor paranaense, nascido na França, responsável, indiretamente, pela preservação de parte da riqueza arquitetônica da cidade de Curitiba.

Fazia tempo que eu não tratava de um artista plástico. Pois hoje vou tentar me redimir aqui com um dos aquarelistas mais impressionantes da arte paranaense.

Paul Garfunkel, Sem título, s/d. Aquarela.


PAUL GARFUNKEL

Paul Garfunkel (1900-1981) viveu e desenvolveu sua arte em Curitiba entre 1942 e 1981. Tornou-se um pintor versátil, com incursões em várias temáticas e técnicas. Viajou pelo Brasil afora e registrou em aquarela, crayon e óleo cenas típicas de costumes e atividades diárias, marinas e paisagens interioranas, mas talvez seu traço mais relevante seja o das cenas urbanas, principalmente de Curitiba.

Ele ganhou reconhecimento como aquarelista, porém desenvolveu também o desenho e a pintura a óleo. Paul Garfunkel não se restringiu a limites muito rígidos e foi dessa forma que criou uma obra duradoura, coerente e profícua.

Tinha um olhar arguto para as cenas do cotidiano. Pintavam paisagens, tanto urbanas quanto naturais e marinas, quase sempre colocando figuras humanas em cena. As famílias, os passantes e as crianças dão movimento e contraponto à luz e aos traços geométricos.

Paul Garfunkel. Praça da Ordem, 1957. Tinta a óleo. Coleção Prefeitura de Curitiba.


O PINTOR DA IDENTIDADE ARQUITETÔNICA CURITIBANA

“Ele chegou antes e pintou o que a cidade deveria preservar. Aquele seu quadro sobre a Praça da Ordem, fez mais pela preservação do setor histórico do que muitas leis.”

Jaime Lerner

A partir de 1942, quando se fixou em Curitiba, até sua morte em 1981, a cidade de Curitiba mereceu grande atenção da obra de Garfunkel. Pode-se dizer que as cenas cotidianas, as praças, os transeuntes nas feiras livres e principalmente os elementos arquitetônicos que viriam a fazer parte do imaginário coletivo dos curitibanos ganharam sua expressão nas aquarelas do artista.

De fato, muitas aquarelas de Garfunkel se tornaram retratos conhecidos dos curitibanos. O imaginário local valorizou aquelas cenas que traziam os traços arquitetônicos do setor histórico da cidade. Isso ajudou a criar o sentimento geral de reconhecimento da importância histórica do acervo arquitetônico da cidade.

Felizmente, essa valorização histórica encontrou eco nas políticas municipais de fins da década de 70. É desse período a revitalização e a definição do talento turístico do setor histórico de Curitiba.


Paul Garfunkel. Praça da Ordem. S/d. Aquarela.


Paul Garfunkel, no entanto, não foi apenas um autor de retratos da cidade de Curitiba. Ele viajou por vários cantos do Brasil e registrou cenas de cidades como Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador e Recife. Muitas vezes, às cores particulares de cada uma dessas cidades, o artista agregava alguma cena do cotidiano cultural.


Paul Garfunkel. Recife. 1936. Aquarela.


As marinas também têm grande destaque no conjunto de sua obra. Suas cenas, porém, quase nunca são apenas de representação da natureza, há por ali uma construção, um barco, uma presença humana, mínima que seja. Mais recorrentes são as cenas de portos e cidades litorâneas, com seus navios ancorados ao longe, com embarcações pequenas atracadas em perspectiva.


Paul Garfunkel. Barcos no porto. 1958. Óleo.


Em suas viagens, Paul Garfunkel a tudo observava, tudo anotava e criava croquis. Muitas dessas notas viravam obras. Depois de seu falecimento, a família se surpreendeu ao encontrar no ateliê do pintor inúmeras obras jamais catalogadas e muitas outras não finalizadas ou que só se limitavam a esboços.


Paul Garfunkel. Esboços. 1935. Lápis.

UM DOS MAIORES NOMES DA PINTURA PARANAENSE Paul Garfunkel é um dos maiores pintores paranaenses do século XX, que foi pródigo em artistas plásticos no Paraná. Assim como outros bons artistas daquele período em Curitiba, como Teodoro de Bonna e Guido Viaro, ele era imigrante. Paul Garfunkel veio da França em 1927, como funcionário de uma multinacional. Quando chegou ao Brasil, morou na cidade de São Paulo, depois se mudou com a família para Santos. Durante algum tempo trabalhou no Paraná afastado da esposa e filhos, como empreendedor negociou palhões para embalagens de banana, em Marechal Mallet. Mais tarde negociou linho em Cruz Machado. Em 1942, ele se instalou definitivamente com a família em Curitiba, onde, à medida que os negócios iam minguando e as dificuldades financeiras cresciam, a pintura foi se tornando sua principal profissão. Sua esposa era diretora da Aliança Francesa em Curitiba, cargo que exerceu por um longo tempo. A família vivia de forma bastante austera, sem luxos. Apesar de tudo, Garfunkel foi um daqueles poucos pintores da época que conseguia viver de sua arte. Tornou-se conhecido. Fez várias exposições individuais, viajou por São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e pelo Nordeste brasileiro. Foi responsável pela publicação de dois importantes álbuns de serigrafias. Images du Brésil, de 1958, é uma espécie de reconstituição de sua trajetória no Brasil, inclusive com alguns textos explicativos que revelam uma certa veia poética. Em 1962, publicou uma série de serigrafias como resultado de sua viagem pelo Nordeste brasileiro, obra intitulada Nouvelles Images du Brésil. Depois de 30 anos afastado de sua terra natal, Garfunkel retornou à França, visitando Paris e outras cidades. Dessa experiência faria uma série de pinturas que já eram expressão de sua maturidade artística.


Paul Garfunkel. Jardim de Luxemburgo, Paris. 1977. Aquarela.


Paul Garfunkel é responsável por alguns dos retratos mais relevantes de Curitiba. O registro pela mão desse artista revela lugares, cores, atmosfera e principalmente as pessoas e a luz desse lugar.

O artista tornou-se parte da cultura curitibana e ele próprio um dos curitibanos (e brasileiros) mais apaixonados por essa terra. Como ele mesmo confessa na última prancha de seu primeiro álbum, Massília: “Mas o Brasil nos acolheu e assimilou, estranho e belo país, irritante e envolvente como uma insuportável amante, por demais amada.”



Paul Garfunkel. Santos III. s/d. Óleo.

AQUARELA

A aquarela é uma técnica difícil de pintura. Isso porque ela exige muita precisão, um traço errado e já não há muito o que fazer, pode-se tentar aplicar camadas, mas a depender do erro a tela estará acabada.

Numa aquarela é fácil perceber que os espaços em branco são parte essencial da composição. Além disso, as pinceladas podem ser muitas vezes suaves, uma única passada e tem-se o complemento necessário.

A técnica da aquarela, porém, normalmente envolve a aplicação de camadas de cor em várias etapas. Inicia-se geralmente com áreas de cores mais claras e diluídas, com a aplicação de camadas adicionais de cor sobrepostas até atingir a aparência desejada. A água tem um papel fundamental nesse processo, pois permite a mistura de cores diretamente na tela.

Uma das características da aquarela é a sua transparência. A tinta diluída em água permite que a luz passe pelas camadas de cor, resultando em cores brilhantes e luminosas. Além disso, a técnica da aquarela permite uma ampla gama de efeitos, desde camadas delicadas e lavagens suaves até detalhes mais precisos e vibrantes.

Apesar de ser uma das técnicas com que várias pessoas começam na pintura, a aquarela exige muito domínio técnico. Isso frustra muitos iniciantes, pois não é fácil, não é simples.



Paul Garfunkel. Le Fort. 1959. Aquarela.


SERVIÇO

Os quadros de Paul Garfunkel estão espalhados por inúmeras coleções públicas e particulares do Brasil, inclusive no acervo permanente do Museu Oscar Niemeyer.

Há algumas publicações específicas sobre o autor e sua obra, hoje muito raras. Para escrever esse material me servi principalmente de:

RISCHBIETER, Karlos. Paul Garfunkel: um francês no Brasil. Curitiba: Posigraf, 1992.


Há um catálogo online que pode servir de introdução, produzido pelo Centro Cultural Câmara dos Deputados.


LEMBRE-SE: conhecimento bom é conhecimento compartilhado. Se você gostou desse conteúdo mande para quem pode se interessar pelo assunto.


DISCLAIMER Esse e-mail é uma produção independente, sem patrocínio de qualquer natureza. As menções a obras são espontâneas e não constituem indicação de compra.

 
 
 

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