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Bibliocanto Volume VII

Atualizado: 4 de mai. de 2023

Olá pessoal!

Chegamos ao Volume VII do Bibliocanto!

Dessa vez o conteúdo será um pouco mais “interativo”. Um vídeo é a peça central desse volume, então, você clique no link, veja o vídeo e depois acompanhe a leitura.

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Captura de um frame do vídeo Tecnho Viking.

TECHNO VIKING

Antes de começar, veja esse vídeo.

Nele pessoas estão dançando e então aparece um sujeito alterado, bêbado ou drogado, que esbarra numa garota de cabelos cor de rosa. Surge então o personagem principal, que recebeu o apelido de Techno Viking, um homem alto, forte, sem camisa, com músculos definidos e cabelo comprido amarrado, uma imagem que logo foi associada aos vikings. Ele segura o braço do sujeito alterado, manda-o para seu lugar, levanta o braço e com o dedo em riste dá uma ordem inaudível, uma cena que virou hit.

O vídeo com cerca de 4 minutos foi visto inúmeras de vezes por milhões de pessoas em todo o mundo. Virou um dos primeiros hits da internet, popularizou-se como Techno Viking, gerou milhares de versões, mash ups, paródias e adaptações e até um valioso merchandising.

O Techno Viking se tornou um marco e revelou as incríveis possibilidades que envolviam a distribuição de vídeos pela internet; isso numa época em que ainda não existia Youtube, tudo era novo e o caminho apenas começava a ser desbravado.

ASSIM NASCE UM MEME

Esse vídeo foi gravado em 08/07/2000, durante a Fuck Parade, em Berlin. Esse evento, produzido por um grupo underground, era uma reação ao Love Parade, show de música eletrônica com grande produção, que levou 1.3 milhão de pessoas para dançar no centro da capital alemã naquele verão.

Durante a pequena Fuck Parade, com carro de som transitando por algumas ruas, Matthias Frisch ligou sua câmera e capturou esse flagrante de cerca de 4 minutos, ao qual deu o título de Kneecam no. 1.

Esse vídeo circulou inicialmente no website do autor, ambiente controlado de vídeos experimentais. Fritsch logo notou que o vídeo acabava sendo visto mais de uma vez pelas pessoas.

Algum tempo depois, o vídeo foi compartilhado num site de conteúdo pornográfico latino-americano e a partir daí replicado inúmeras vezes em centenas de outros sites. Na era pré-Youtube os próprios websites subiam os vídeos, roubando (“compartilhando”) vídeos de outros sites.

Em 2007, o vídeo foi compartilhado no Youtube, logo nos primórdios dessa plataforma. Sem edição, totalmente pixelizado, o vídeo de baixa qualidade foi simplesmente subido. Mas assim que foi para o ar, a reação foi imediata. Surgia ali um dos primeiros sucessos virais da internet, com mais de 1 milhão de views nos primeiros dias.

Naquela época, antes das redes sociais, havia muitos fóruns de discussão e foi neles que surgiu a denominação Techno Viking para se referir ao vídeo. Com mais de 4.5 milhões de views, ninguém mais reparava no título original dado pelo autor, o vídeo tinha ganhado um nome popular e era assunto das conversas cibernéticas. Nascia ali um fenômeno que já não era mais controlável, tinha ganhado vida própria.

Além disso, outra coisa nova começava a surgir: muitas pessoas não assistiam simplesmente, elas interagiam produzindo paródias e mixagens. Surgiram, assim, reconstituições caseiras, versões remixadas e paródias. Até uma famosa música do grupo de música eletrônica Prodigy, Mescaline, ganhou uma versão com o vídeo editado, que acabou se tornando muito famosa.

Além disso, o Tecnho Viking com o dedo em riste virou uma referência para designs gráficos e produtos: camisetas, esculturas, canecas, adesivos etc., até a Fischer-Price lançou o boneco Techno Vicking.

Ainda não se tinha consciência do que estava acontecendo, mas estava surgindo ali, na frente de todo mundo, um dos primeiros memes da história da internet.

Antes de mais nada é preciso esclarecer o que é um meme.

O termo vem da biologia; o meme é um pedaço mínimo de memória de um gene que busca se multiplicar rapidamente por meio de uma estratégia viral. Na internet, o termo se aplica a um produto mínimo, cartaz, foto, vídeo, gif etc., que se propaga em meio a contextos culturais diversos sendo copiado, combinado, remixado e transformado.

Quando se observa fenômenos típicos de memes pelo Google Trends, percebe-se uma curva previsível entre seu surgimento, propagação máxima e declínio. No caso do Techno Vicking, no entanto, até recentemente algo ainda inexplicável fazia com que o meme ganhasse força novamente de tempos em tempos, mantendo-se entre as tags de maior interesse.

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Boneco baseado no Techno Viking - todo merchandising relacionado ao fenômeno foi proibido.


CRUZADA JURÍDICA Em junho de 2008, o Youtube entrou em contato com Matthias Frisch; por e-mail eles aventaram as oportunidades que surgiam com o Techno Vicking. Obviamente, isso tudo implicava no uso de imagem de um indivíduo, e ter sua anuência era imprescindível para desenvolver o negócio. Surgia a mais central de todas as questões: quem é o Techno Vicking? Frisch buscou saber quem era o protagonista de seu filme, investigou em Berlin, nas academias de musculação, com anúncios, telefonemas, e-mails. Mas sem resultados. O negócio estava tomando dimensões gigantescas e o valor monetário envolvido não era nada desprezível. É claro que isso suscitou muitas dúvidas: por que o Techno Vicking não aparece e deslancha sua carreira? Por que não fazer mais material relacionado ao Techno Vicking? Por que não monetizar ainda mais o merchandising crescente? Começaram a surgir então vários indivíduos se dizendo ser o Techno Vikings, eles vinham de todos os cantos, como um sujeito que foi preso num certo lugar ou então Keith Jardine, campeão de MMA. O verdadeiro nunca apareceu, mas sim seu advogado: Alexander Paschke. Elevado ao nível jurídico, entrava em discussão um novo universo do direito. Da parte do cliente, a alegação era a de que o vídeo ofendia seu direito de imagem e invadia sua privacidade, havia outras questões envolvidas, como monetização, distribuição etc. Aparentemente, o problema não estava relacionado a dinheiro, mas ao controle da própria imagem (os valores de ressarcimento não chegaram a 25 mil dólares). Tinha-se criado assim a seguinte situação: de um lado um sucesso estrondoso e a promessa de uma pequena fortuna, de outro o protagonista do vídeo não querendo permitir a veiculação (que já tinha saído do controle), nem explorar possibilidades futuras. O advogado usou o argumento de que seu cliente tinha o direito de ser esquecido e ganhou a causa. Assim, Matthias Fritsch foi condenado a pagar o ressarcimento, as despesas jurídicas, não explorar financeiramente qualquer coisa relacionada ao vídeo e retirar do ar tudo que fosse relacionado ao Techno Viking. Mesmo assim, ainda é possível assistir ao original e todo um conjunto de versões, mash ups, remixagens e paródias no Youtube. Como isso é possível? O problema é que a propagação do vídeo e a multiplicação da imagem do protagonista desconhecido tinham fugido ao controle de Fritsch. Entretanto, isso não o eximia da responsabilidade. Inclusive, havia uma prova contundente contra o autor do vídeo. Em abril de 2008, Matthias Frisch recebeu um e-mail de um desconhecido e, em sua resposta, ele afirmou ser o único e principal responsável pelo sucesso do vídeo. Isso, no entanto, é contestável, pois ele simplesmente tinha feito o vídeo e seu upload. O sucesso não teve sua interferência, ocorreu sem seu esforço para propagar o vídeo ou pagar pela divulgação. O sucesso desse vídeo foi espontâneo, feito pela comunidade, numa época em que ainda se começava a explorar as potencialidades dos vídeos na internet. É importante aqui lembrar que era uma época em que ainda não se tinham desenvolvido as ferramentas de publicidade do Youtube e engatinhava-se na compreensão de como fazer vídeos online rentabilizarem. Hoje, é simplesmente impossível fazer um vídeo ter alcance e sucesso sem investimento em sua publicidade. Ou seja, o fenômeno Techno Viking ensinou muita coisa para os administradores da plataforma de vídeos. De qualquer forma, nesse julgamento vieram à tona questões muito presentes nos dias de hoje, como por exemplo: como você pode ter 100% de controle ao seu direito de imagem numa época em que todo mundo tem uma câmera? Isso é virtualmente impossível. Para não ser fotografado ou filmado à sua revelia em ambientes públicos, uma pessoa teria de ostentar esse desejo de alguma forma. A situação se modifica em ambientes privados, quando há maior chance desse controle. Nesses casos, isso pode ser considerado crime. O fenômeno Techno Viking revelou um caminho a ser explorado pelo Youtube, mostrou também que o problema jurídico relacionado aos vídeos era mais complexo do que se poderia imaginar. Um novo horizonte se descortinava.


O DOCUMENTÁRIO DO PROIBIDO A história por trás do fenômeno foi relatada pelo próprio Matthias Frisch, autor do vídeo original, em seu documentário The story of Technoviking, que veio ao ar em 2017. Logo em seu início lemos: This film wouldn’t exist without financial support of hundreds, the remix of thousands and the sharing of millions. [Este filme não existiria sem o suporte financeiro de centenas, remixagens de milhares e compartilhamento de milhões.] Esse é um bom resumo do fenômeno. Sem a massa de internautas e suas reações ao vídeo não haveria o Tecnho Viking. Logo na abertura do documentário, há a apresentação de vários fragmentos de vídeos paródicos, sob o som de uma música cujo tema é o vídeo original. Ao longo do documentário de pouco mais de 40 minutos, Frisch, convidados e participantes indiretos do processo entram em cena para desenvolver uma análise do fenômeno. O documentário faz, assim, uma análise desses tempos interessantes de mídias sociais. O vídeo só foi possível a partir da censura da imagem do protagonista, assim, sempre que ele aparece uma sombra o cobre. O documentário está em inglês e alemão, com legendas nesta língua. Um material interessante sobre os estranhos caminhos que a internet tem tomado.


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FICHAS DE LEITURA Muitas vezes lemos vários livros, mas pulamos a etapa de anotar e escrever uma ficha. Dessa forma, em pouco tempo esquecemos de parte do que lemos. Outras vezes lembramos apenas de uma ideia ou de uma citação. Quando, porém, mantemos um fichário organizado, inclusive com nossas impressões e interpretações escritas, aquele conteúdo se torna fácil de resgatar. Além disso, essas anotações poderão servir para a produção de conceitos mais complexos em algum momento posterior. Talvez o próprio ato de escrita fixe melhor as ideias na cabeça. Enfim, o ato de anotar e escrever é um passo importante para o desenvolvimento intelectual. Um dos maiores teóricos e autores do século XX, Umberto Eco dava grande importância para as fichas de leitura. Ele desenvolvia vários tipos diferentes delas, como as fichas de leitura propriamente ditas, com anotações sobre o livro lido, as fichas temáticas, com anotações oriundas de diferentes autores (devidamente referenciados) sobre um determinado tema, havia ainda a de citações, com a cópia de trechos de diferentes autores sobre um tema. Todas essas fichas e ainda outras servem para o desenvolvimento de um estudo profissional profundo. Particularmente, gosto de concentrar minhas anotações numa única ficha. No tempo de Umberto Eco, as fichas eram feitas em pedaços de papel pequenos que se encaixavam em fichários de madeira. Hoje em dia temos os computadores e o sistema de busca em nossos próprios arquivos facilita muito as coisas. Em minhas fichas eu inicio com a indicação bibliográfica pela ABNT. Depois faço um pequeno texto sobre o livro, uma espécie de resenha particular em que anoto minhas impressões, dados do livro, do autor, organização da obra, principais ideias etc. Em seguida, organizo os temas do livro. Por exemplo, o livro aborda o problema da teoria literária e depois passa para as estéticas do século XX. Nesse percurso o autor trata de conceitos de literatura ou que é literatura. Coloco, então, como um subtítulo o tema “O que é literatura” e depois a citação do autor sobre o assunto. Se necessário acrescento uma paráfrase a partir de conceitos do livro e ao final faço uma consideração específica, como “ver esse aspecto em comparação com o de fulano ou beltrano”. Minha ficha é assim de leitura e de temas, além de citações. No meu arquivo no computador eu posso fazer as buscas por palavra-chave de tema, autor, título da obra, ou até mesmo uma ideia geral que posso refinar nas buscas. Cada um de nós pode desenvolver sua própria ficha de leitura. O importante é que ela seja bem organizada, que as informações sejam recuperáveis e que não se perca tempo tentando resgatar coisas mal guardadas.


QUESTÃO DA SEMANA Na semana passada perguntei se vocês tinham alguma pauta que gostariam de ver abordada num Bibliocanto. Pois bem, não recebi uma pauta, mas algo que tomarei como uma sugestão. Meu amigo Oscar, de maneira muito sutil, apresentou-me um sugestivo material sobre Gouneville, explorador francês que entre os anos de 1502 e 1504 esteve na região de São Francisco do Sul, em Santa Catarina. Um tema interessantíssimo, relacionado às primeiras viagens exploratórias na América. Está anotado! Em breve vou abordar aqui. Abrigado meu caro Oscar! QUESTÃO PARA A SEMANA Na sua opinião, qual a mais grandiosa música de todos os tempos?


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