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A LINGUAGEM COMEÇOU COM O HOMO ERECTUS?

O Homo erectus pode ter sido o primeiro hominídeo a ter linguagem mais elaborada.


O Homo erectus se espalhou pelo mundo todo, saindo da África e atingindo as regiões mais extremas da Ásia e da Europa.


Essa espécie produziu ferramentas em profusão e num nível de qualidade superior ao atingido pelos Homo habilis. Além disso, deram um passo definitivo e aprenderam a utilizar o fogo.

 

Aparentemente, essa espécie também desenvolveu algum tipo de navegação. Seus fósseis são encontrados em ilhas do sudeste asiático que nunca tiveram ligação terrestre com o continente.

 

Todas essas conquistas revelam certo nível de preservação de memória, de transmissão de ideias e pensamentos, em outras palavras, cultura.

 

Só é possível haver cultura se houver linguagem. Por isso, o Homo erectus é o personagem central de uma das primeiras etapas da construção da cultura.


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Foto: reconstrução artística de Homo erectus intitulada Turkana Boy. Modelo por Kennis & Kennis Reconstructions. Fonte.


ARTEFATOS LÍTICOS, AS FERRAMENTAS DE PEDRA

Ferramentas são artefatos individuais produzidos para sanar necessidades do indivíduo ou da comunidade. Elas são a manifestação concreta de ideias, resultado de um repertório completo de conhecimentos, convenções, processos e de outros instrumentos.

 

Isso vale também para qualquer artefato lítico, ou mais popularmente uma ferramenta de pedra. Basicamente, o processo de produção de uma ponta de lança, faca ou machado de pedra, consiste em desbastar um bloco grande de pedra de modo que seu centro se torne o objeto necessário.

 

Lapidar um bloco de rocha para transformá-lo numa faca demanda conhecimentos e práticas. É preciso, por exemplo, utilizar outras pedras mais duras para o processo. Além disso, os golpes a serem dados determinam o resultado, o que exige, então, técnica.

 

Assim, a produção de uma ferramenta lítica exige um conjunto relativamente complexo de conhecimentos.

 

Tais conhecimentos não são transmitidos por simples mimetismo ou imitação. Experiências revelam que há a necessidade de explicação para se aprender a produzir uma ferramenta de pedra básica, ao estilo das produzidas pelos Homo erectus.

 

A aprendizagem de habilidades técnicas demanda uma combinação de gestos, imitação, linguagem e intervenção de um guia experiente. Isso se aplica ao Homo erectus, bem como aos Neanderthals e à nossa espécie, Homo sapiens sapiens.

 

Portanto, em todas as etapas da produção de ferramentas se desenvolve um sentido de valor. Dessa forma, o resultado final será avaliado do ponto de vista funcional e social.

 

Ferramentas, então, tornam-se símbolos, uma vez que emergem de valores, estruturas de conhecimento e têm papel social em uma cultura particular. Elas passam a ser, assim, uma convenção social.

 

O simbolismo em ferramentas dos Homo erectus é uma evidência crucial. Elas eram muito importantes para eles. Escavações arqueológicas revelam que esses hominídeos cuidavam delas, transportavam-nas por grandes distâncias, mantinham-nas por perto, pintavam-nas, adornavam-nas e até as enterravam em suas sepulturas.


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Foto: Ferramentas de Homo erectus, apresentadas em suas duas faces. Fonte.

 

REFINAMENTO NA PRODUÇÃO DE FERRAMENTAS

O Homo erectus é a espécie de maior sucesso na linhagem hominídea, coexistindo com outras espécies ao longo de 1.8 milhões de anos até cerca de 200 mil anos atrás.

 

Ao longo do tempo, suas ferramentas ganharam um refinamento cada vez maior. Há evidências ainda de individualização cultural. Grupos de Homo erectus da África ocidental, por exemplo, produziam artefatos com um acabamento diferente dos grupos da porção oriental.

 

Alguns objetos que podem ter sido feitos pelos Homo erectus há cerca de 900 mil anos revelam pintura com ocre. Essa é uma evidência de que, aos poucos, eles foram incorporando elementos não práticos aos seus objetos. Seria esse um dos primeiros estágios do pensamento estético.

 

Na ilha de Java, no sudeste asiático, num sítio arqueológico datado em 500 mil anos, foi encontrada uma concha com marcas simétricas. Isso indica um comportamento cognitivo direcionado para uma ação estética, para além do mero utilitarismo.

 

O conjunto de evidências em torno da espécie revela que com o Homo erectus teria havido, pela primeira vez, um pensamento combinatório, uma imaginação do futuro.

 

Isso reforça a existência de linguagem entre essa espécie. Tratava-se, é claro, de uma linguagem primitiva, mas que já contava com símbolos, no limiar da cultura.



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Concha com marcas geométricas feitas com dente de tubarão por Homo erectus há cerca de 500 mil anos. Fonte.

 

HOMO ERECTUS E A LINGUAGEM

Os achados arqueológicos, tanto os relacionados com a produção de ferramentas, quanto com o uso do fogo e eventualmente com o desenvolvimento da navegação, indicam o uso de linguagem pelo Homo erectus.

 

Durante muito tempo pensou-se que eles seriam incapazes de fala por uma razão fisiológica: a ausência de osso hióide na espécie. Esse osso é flutuante e fica na região do pescoço, sem ligação com o restante do esqueleto. Ele é fundamental para a produção de sons.

 

É muito difícil encontrar esse osso em esqueletos fossilizados, mas descobertas recentes comprovam sua presença no Homo erectus. Assim, pode-se afirmar que a linguagem existe há cerca de 1,5 milhão de anos.

 

A datação dos artefatos do paleolítico é sempre muito contestada, por isso alguns pesquisadores preferem a data de um milhão de anos para fixar o começo da linguagem. Mas, independentemente da abrangência e flexibilidade desses períodos, o surgimento da linguagem remete sempre ao Homo erectus.

 

Há autores, porém, que consideram apenas o período entre 200 mil e 100 mil anos atrás como do surgimento do uso convencional de símbolos gramaticalmente organizados por ancestrais humanoides.

 

ESTUDOS RECENTES ALTERAM A PERCEPÇÃO SOBRE A ERA PALEOLÍTICA

 

Tudo o que se relaciona com o estudo histórico da era paleolítica é cercado de incertezas. Isso porque há no momento boas teorias, mas volta e meia surgem novas evidências, novos achados que alteram as proposições.

 

A arqueologia é talvez um dos campos científicos mais dinâmicos da atualidade. Isso se deve aos avanços tecnológicos, que permitem um aprofundamento ainda maior das pesquisas, e às várias descobertas que ocorrem.

 

Então, o que temos aqui reflete o atual estágio das pesquisas. Tudo pode mudar com um achado que seja realizado daqui um mês.

 

Um exemplo disso são os recentes achados arqueológicos feitos na Jordânia, que indicam que a espécie Homo habilis migrou para fora do continente africano. Isso altera a percepção da evolução da espécie para o Homo erectus.

 

Eventualmente, esta espécie teria surgido na região do Cáucaso, e não na África, tendo migrado posteriormente para este continente. Da mesma forma, essa espécie seria uma evolução direta do Homo habilis.

 

Há muito ainda por se descobrir!

 

SERVIÇO

Um autor interessante sobre as origens da linguagem, do ponto de vista antropológico, é Daniel L. Everett, que inclusive fez seu doutorado no Brasil e estudou a língua dos índios Pirahã, da Amazônia.

Há um interessante vídeo de um de seus seminários nos EUA, em inglês:

Esse vídeo aborda parcialmente seu livro, intitulado:

Linguagem: a história da maior invenção da humanidade.

 

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