A arte de ler
- Ribas Carneiro
- 19 de jan.
- 4 min de leitura
Atualizado: 23 de jan.
A arte de ler, de Émile Faguet, é um roteiro prático para o leitor que busca o prazer de ler.

O PRINCÍPIO BÁSICO DESSA OBRA É LER DEVAGAR
Esse é o antídoto absoluto contra toda a “ansiedade do leitor”. Afinal, fruição, prazer, entendimento, compreensão, interpretação... tudo o que se relaciona à leitura nos obriga a uma parada, uma desaceleração.
Ler é como rezar, é preciso sair um pouco do tempo cotidiano, da correria do dia a dia. Só assim penetramos no universo das ideias, num diálogo com o outro que é o autor da obra que lemos ou seus personagens.
Nesse sentido, seria absurdo querermos dar conta de coisas como listas de livros do ano, do mês e para alguns, até da semana.
Lemos aos poucos, e não lemos quando estamos cansados ou enquanto trabalhamos. Ler implica em dar aquela paradinha no dia, sair do mundo e só depois de algum tempo em outra dimensão voltarmos, recarregados e preenchidos de ideias.
É importante, claro, ter uma rotina de leitura. Aqueles 15 minutos antes de dormir são uma bênção após um dia de trabalho. Outros preferem acordar mais cedo para dedicar algum tempo à leitura, o que torna o dia melhor.
Ao longo do dia há às vezes algumas oportunidades preciosas de leitura, como em filas de espera ou numa viagem de ônibus. Para essas pequenas recompensas é necessário ter sempre o livro à mão.
A leitura, mesmo quando feita entre um compromisso e outro, precisa ser realizada lentamente, atenciosamente. Se possível, deve ser acompanhada de anotações e comentários à margem. Além disso, é preciso voltar às vezes a algum trecho mais obscuro ou relendo uma passagem marcante.
Tudo isso demanda tempo, por isso deve-se ler lentamente.
Esqueça as imposições de ler 10, 15 ou 20 páginas por dia. Se o livro for bom você vai devorá-lo, mas há livros que não rendem nada. O importante é fruir (esta é a palavra erudita para “curtir”).
RELER
Para Émile Faguet, especialmente os livros de filosofia precisam ser lidos e relidos, pois precisam de uma atenção e convivência maior e mais exclusiva.
Isso seria necessário para que o leitor consiga penetrar mais profundamente nos conceitos dos autores. Isso permite estabelecer uma crítica ou descobrir contradições no autor.
Essa é, obviamente, uma ação ativa de um leitor atento, que discute com o autor, que anota, que reflete, que se inspira, que produz a partir da leitura.
Devo acrescentar, porém, que não são apenas os livros de filosofia que merecem ser relidos. É um grande prazer, sem dúvida, relermos uma obra que foi marcante em nossa juventude com os olhos da maturidade. Reler livros inesquecíveis, que nos falam alto, é uma prática prazerosa e enriquecedora.
Talvez aqui esteja também um dos antídotos contra a “ansiedade do leitor”: não é preciso ler milhares de livros, é preciso ler, muito bem e profundamente, apenas uns poucos ao longo da vida.
O CONTEXTO DE A ARTE DE LER
No início do século XX, a imprensa crescia rapidamente e as editoras publicavam cada vez mais livros numa velocidade crescente. Isso ampliava o número de leitores e muita gente se sentia um tanto perdida naquele novo universo.
Émile Faguet publicou A arte de ler pensando naqueles leitores vindos de contextos de pouca ou nenhuma leitura. Eles queriam aproveitar a leitura, mas não necessariamente serem também autores, pesquisadores ou críticos.
O leitor ideal de Faguet deseja penetrar mais fundo na experiência estética e intelectual. Ele é como aquela pessoa que toca violino. Ela quer tocar melhor, mas não o suficiente para participar de uma orquestra. Essa pessoa quer ter prazer tocando o instrumento, fruir a arte. Nada mais.
Esse livro tem muito a ver com o contexto atual. Hoje, graças à internet, os livros se tornam cada vez mais acessíveis. Há, com isso, uma certa pressão para que as pessoas leiam cada vez mais. Entretanto, muita gente vem de contextos de pouca leitura e se vê insegura frente às opções e em relação ao próprio ato de ler.
Já falei com jovens que sentiam-se maus leitores porque não lembravam de tudo o que tinham lido. Outros nunca sequer tinham cogitado fazer anotações.
É normal sentir-se perdido no começo. É preciso aprender a ler com propriedade e segurança. Nesse sentido, essa obra de Faguet pode ser útil a muita gente.
QUESTÕES PARA VOCÊ
Como você lê? Qual a sua arte de ler? Que métodos ou estratégias funcionam para você?
Tente responder essas questões e encontre seu caminho. A leitura é algo muito íntimo, que o leitor em potencial precisa descobrir ou desenvolver.
REFERÊNCIAS:
FAGUET, Émile. A arte de ler. Trad. BARBOSA, Roseli Almeida. Campinas: Kírion, 2021.
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